liríade pra luz,

29 maggio 2015

.

desta maneira só restaria
recomeçar contando sobre como a fotografia me roubou
a escrita e assim eu estaria sempre, pela primeira vez atenta,
a essas imagens que se formam gravadas diante de meus olhos para dentro,
como passar a gostar do vermelho,
tendo esquecido por tempo demais o quanto ele já estava
no seio das coisas gostadas.
como quando descrevia aquela mão num papel sobre um muro em tiradentes.
sentada.


teria sido esse intervalo e no japão 

os rolos giravam para dentro dos filmes
de volta,
como em uma rebobinagem de espontânea
desestabilizadora vontade. a vontade então me torcia e não era possível 

sobre o rio da cidade registrar a lua nem a lâmpada de hélio

nem colher aqueles vermelhos e azuis claros que ambos vestiam de costas e na janela do trem a floresta.


o filme teria girado para dentro da cápsula
e voltaria a ser escuro sem eu saber
que os botões batiam em falso e sobre tudo
só me sobraria


contar sobre fotografias falsas e então
eu quase poderia ver
a escrita dando um sorriso
muito anterior

2 novembre 2009

,



O primeiro dia da semana
é o domingo?

Ontem nao te escrevi.

Lembro na rua eu quis - a rua Augusta se torna Colômbia e eu quis -

Senti como era o cheiro de àrvores em Sao Paulo e acho que nao quis mais nada.

Agora, isso foi depois de nao ter contado
que no ballet de Lorraine lembrei por um tempo do cheiro do seu carro
diante da locadora
uma coisa nova.

Depois no ballet de Lorraine
nao pensei mais
- pensei que aquilo fosse a ultima coisa
- e roubei esse pensamento.

Lorraine dà mesmo um pau em Marselha...

Outros dias foram outras coisas e andares.


---

Sempre forte esse caminho vai dar na bahia.
Sempre forte esse caminho vai dar em Sao Paulo.

Vai dar numa mulher que canta uma musica linda na ràdio francesa...Siboney, Lecuona? ----
Custo a entender as palavras que nao conheço,
e 'as vezes essa carta se desvirtua de você;

é que você nao tinha esse nome no ano passado


8 febbraio 2009

Os olhos do teu coraçao


nao sei onde li isso.

23 dicembre 2008

I


Os meus olhos na maçã do teu rosto e o maxilar no ombro, 
assim se encaixa um rosto.
Uma da mão num ombro, pedaços do braço o cotovelo a coxa na mesma coxa e, faço um pouco de lembrar, não tem escrever o resto, tem o começo em Lisboa.

Esse rosto no meu corpo, a sua lingua é francesa, hesito entre tua e sua. você é um homem.





II

Me fez buscar na sua casa para cà.



III

Paris.


14 dicembre 2008

Começo



Por exemplo começar por Lisboa.

17 luglio 2008

,

ici


soube por anastassya que bielo-russia quer dizer a russia branca,
adoro o barulho de quando muitos lendo junto viram a pagina ao mesmo tempo,
hoje mareei os olhos numa aula sobre o tempo,
e pela primeira vez vi um garçom espirrar

14 giugno 2008

para te escrever um texto agora, me aproximo de alguma matéria
que às vezes parece madeira a ser entalhada, pra ficar só o que resiste,
noutras é uma massa que cede aos dedos
em especial aos gestos pequenos
como o das mãos que estiram a água do próprio corpo depois do banho
ou uma mão que ainda mais leve acompanha a maçã do rosto de uma pessoa


(as outras faíscas e farpas, estórias que podem ser da tessitura, ficam em suspensão: tive que encarar a matéria da madeira. envolvem rãs, polvilho muito branco, garoa, são paulo. e como eu comecei a contar do coelho...)

13 giugno 2008

é uma espera para escrever inteira, para guardar depois dos olhos o sabor de umas palavras que chegam à boca, se repetem e refazem num murmúrio de quem gosta
força-motriz, raiz, sentir santir sentr-se com todos os acentos
e conotações
transbordos e transoceânicos
« nas viagens de terra, subterrâneo mar e ar »

vontade muita, vontade simples e alive viva
de contar que nasci em doze do doze, e nascer é tão violento
violento visceral paixão
o que é tão bom e pulsante
quanto partir en vitesse para escrever e fotografar horrores, o que for terrivelmente bonito,
desde o dia sete do sete deste ano
até um continente onde o conteúdo transborde

sem a superfície estriada que a gente percorre como roteiro,
sem roteiro,
no mergulho

6 giugno 2008

« Era como se eu procurasse a natureza de um verbo que não tivesse infinito e que só poderia ser reconhecido através de um tempo e de um modo »

Monsieur Roland Barthes, na Câmara Clara

19 maggio 2008

te escrevi hoje no fim da manhã, deitada num banco que amo, perto do chão, onde quando a gente deita se sente cedendo à terra de todo o cheiro do sol entre as frestas, molhado, dos bichos pequenos que seguem correndo pelos tecidos mesmo depois no contínuo do dia, na volta pra sala, ali onde ficam os papéis, os móveis e as pessoas

quando eu te escrevi não tinha papel, nem lápis, teclado,
e, estando sozinha, tinha só eu

agora que eu te conto, tudo se imagina de novo, você pode imaginar
que tinha você perto

--

no resto do dia eu fui entender
essa fenda que se abre e como é infinita pra dentro

ou então, melhor dizer, eu só comecei
muito lenta, a entender
como um encontro abre essa fenda, pra gente falar sem língua, coisa nenhuma, do oco para o oco

porque ao mesmo tempo é tanta explosão, pólvora, tão bom violento mas tão violento,
que a gente já começa a seguir pelos dias, como só pode, no viver de sobrevida,
com as palavras, camadas, o português, a madeira feita em móvel

--

ainda fica, de todo jeito,
constelação de ossos quebrados
mesmo com um pouco de amortecimento pra tocar,
a sensação de estar vivendo com muita força,

e um beijo muito,
até que o tempo for propício,

17 marzo 2008

´

secar a pele, nutrir a pele, fazer do quente a toalha

e assim por diante estar muito perto,
aos poucos poderei dizer estar dentro,
dentro mesmo de onde moro,
tem noites em que vem só o susto.

parece que no outro domingo essa ainda não era a casa, então era mesmo o protótipo de casa e eu ficava e fotografava, me estendia no ensaio de habitar a grande novidade.

eu fiquei a semana toda louvando aquele domingo.

mas hoje, hoje era domingo então eu não soube mais sair daqui, não fiz bater as pernas pra ver o filhote do kazuo ohno, ainda que ame a paulista, sobretudo naquela altura, porque para chegar naquela altura sempre significa já ter andado um tanto,
--

_

é, deve ser, deve ser que não tem outra: é preciso reverter cada domingo de um jeito novo, num gesto bem grande e diverso

16 marzo 2008

secar a pele, nutrir a pele, fazer do quente a toalha


e assim por diante estar muito perto,

aos poucos poderei dizer estar dentro,

dentro mesmo de onde moro,

tem noites em que vem só o susto.


parece que no outro domingo essa ainda não era a casa, então era mesmo o protótipo de casa e eu ficava e fotografava, me estendia no ensaio de habitar a grande novidade.


eu fiquei a semana toda louvando aquele domingo.


mas hoje, hoje era domingo então eu não soube mais sair daqui, não fiz bater as pernas pra ver o filhote do kazuo ohno, ainda que ame a paulista, sobretudo naquela altura, porque para chegar naquela altura sempre significa já ter andado um tanto,



--


acho que não há mesma semana, acho que não tem mais solução: os domingos precisam ser revertidos a cada vez de um jeito diverso

10 marzo 2008

_

Ne laisse pas le soin de gouverner ton coeur à ces tendresses parentes de l'automne auquel elles empruntent sa placide allure et son affable agonie. L'oeil est précoce à se plisser. La souffrance connaît peu de mots. Préfère te coucher sans fardeau: tu rêveras du lendemain et ton lit te sera léger. Tu rêveras que ta maison n'a plus de vitres. Tu es impatient de t'unir au vent, au vent qui parcourt une année en une nuit. D'autres chanteront l'incorporation mélodieuse, les chairs qui ne personnifient plus que la sorcelleire du sablier. Tu condamneras la gratitude qui se répète. Plus tard, on t'identifiera à quelque géant désagrégé, seigneur de l'impossible.
Pourtant.
Tu n'as fait qu'augmenter le poids de ta nuit. Tu es retourné à la pêche aux murailles, à la canicule sans été. Tu es furieux contre ton amour au centre d'une entente qui s'affole. Songe à la maison parfaite que tu ne verras jamais monter. À quand la récolte de l'abîme? Mais tu as crevé les yeux du lion. Tu crois voir passer la beauté au-dessus des lavandes noires...
Qu'est-ce qui t'a hissé, une fois encore, un peu plus haut, sans te convaincre?
Il n'y a pas de siège pur.

_René Char, J'habite une douleur. 1962.



Não deixe o mando de teu coração a cargo dessas ternuras parentes do outono de quem emprestam marcha mansa e sua afável agonia. O olho é precoce ao dobrar-se. O sofrimento conhece poucas palavras. Prefere deitar-se sem peso: sonhará no amanhá e teu leito será leve. Sonhará com tua casa sem vidros. Você fica impaciente pra se unir ao vento, ao vento que percorre um ano numa noite. Outros vão cantar a incorporação melodiosa, as carnes que não personificam mais do que os feitiços da ampulheta. Condenará a gratidão que se repete. Mais tarde, será confundido com algum gigante em desalinho, senhor do impossível.
No entanto.
Só fez aumentar o peso de sua noite. Está de volta à pesca das muralhas, à canícula sem verão. Está furioso com seu amor no centro de um acordo que enlouquece. Sonha com a casa perfeita que jamais verá crescer. Até quando a colheita do abismo? Mas vazou os olhos do leão. Crê ver passar a beleza acima das lavandas negras...
Quem te alçou, mais uma vez, um pouco mais alto, sem te convencer?
Não há base pura.

26 gennaio 2008

existem, ouvi dizer, existe por exemplo alguém que vê o número pi numa extensão - mais de cinco horas para dizer na voz - uma paisagem. regiões muito bonitas mesmo.

sempre por terra, essa estrada leva à Bahia...passa por rios,

instante-região.
os dias são todos transitórios, caminham rumo ao vapor. igual eu ouvi sendo raio Claudeci dizer que somos faíscas.

porque num estalo alguma vez - porque ainda, porque no murmúrio do chá - não tinha nada diverso entre sonho e passado.
a gente muda o tom da voz para dizer que uma parte é delírio,

mas num mesmo balaio
tive um sonho em que as pessoas do ônibus falavam inglês, uma menina ficava dizendo pra outra que 'é tudo a mesma substância', o único livro que trouxe tem uma grande página de rosa em italiano.
acordei e riam muito do sotaque australiano dele, elas capotaram, davide também tinha dormido absurdos em turim.

_ _

feito um mantra no lugar do outro mantra de que já nem me lembro mais.
uma parte da sede vai com o tanto que se bebe, mas há o que se abastece só nos olhos,
o sol nasce do mar.

_

não apressa as fagulhas que vê a prestes a soltar

já tem o apreço, o natural fôgo nos olhos, essa lembrança de que o fogo sempre enfim

14 dicembre 2007

,

No ônibus, perto do meio-dia, ao menos seis pessoas de olhos fechados.
(Prováveis os doze castanhos, um tom sobre o tom da pele de meus conterrâneos no Brasil.)

Das quatro bundas de meninas
ao alcance do meu olhar
três vestem calça jeans
com adereço de brilhantezinhos, "strass"

Numa noite de novembro, estive de bobeira com minha irmã
desgrudando da calça nova
bolinhas de strass. Demos risada porque ficaram muito simpáticas
feito estrelas no chão do quarto.

(Os meus olhos são de castanha também,
ainda que um querido tenha dito jabuticaba
e talvez outro mel.)

_ _

bem possível:
tudo o que escrevo e destino até
tem sido o puro exagero

e como é sempre
isso há de vir da própria matéria das palavras, que são
um sopro,
mas que o modo formol retém
nos itens enviados


importante:
se eu me dispusesse à computação
fazia um gif animado
em que " da própria matéria das palavras"
se alternava com "dos anseios-coração"

---

ficam renitentes no pensamento também. ai! querendo me compor na firmeza,
desdenho tudo o que tiver mandado
antes de entrar na madrugada. é! qualquer movimento que segue em direção.

13 dicembre 2007

_

porque às vezes parece que se eu começasse a adentrar no universo não ficaria nenhuma palavra sustenta que resistisse à composição de um

sabe? como quando se tira as camadas, no centro não se alcança um vazio?

2 dicembre 2007

_ _ _ _ _ _ _

não afobar a cena do amor
ou fazer tudo isso, fazer de tudo isso o oposto, tanto fazer

--

uma escrita que nunca teve noção de seu trajeto
desse mesmo jeito eu te escreveria
num gesto contínuo
que quando segue um ramo desde o outro
até sabe que um dia houve tronco
mas não se prende à lembrança,
já não se lembra de ter havido muitos galhos
ou alguma possibilidade de indecisão

_ _ _ _ _ _ _

tudo isso é tão pequeno

que uma onda de mar seria
o puro caldo espesso da vida provisória

e pra ver isso
os olhos têm de abrir na água um pouco quente

_ _ _ _ _ _ _

o teu nome
tem tantos contornos, quebra dos caminhos da cidade
que uma pessoa pode mesmo passar uma vida seguindo a si própria
e até desse jeito vai estando perto de você

25 ottobre 2007

...
e, no passo que me dei conta,
havias morado enfim
no mundo de minha terra.

(só resta saber
se eu ainda sou teísta.)

30 ottobre 2005

ah, sim! quanta palavra 'deus' reparei abaixo! e eu cá sem nenhuma certeza divina, com a pequena experiência terrena...

25 ottobre 2005


e da fraqueza que não se desse em termos de força, o que faria?

o acolhimento frágil por quem a si tampouco sustenta, os olhos sorrindo só muito depois. Pois eram cílios construídos sobre: força de cílios. E no entanto um dia se quis, se desejou fervorosamente por um simples querer, tirar a sorte através de dedos e um cílio. O jogo ciliar que termina no pescoço. E, dos dois, ele é quem tinha os curtos pêlos agarrados às pálpebras, resistentes (fortes). Mas se tanto queria tocar-lhe o dedo com seu próprio, e se para isso ter de ter os olhos mais carecas...não eram desistentes, capituláveis, aqueles? Se para chegar a ela.
O que cede, a fraqueza nascida de uma força morta, não terá o brilho de um Deus parido de ventre cético?

e o que faremos, do que amolece? A ver nossos olhos sorrindo muito, depois.

8 ottobre 2005

sêmen

não há quem saiba se mentes
enquanto plantas em mim
essas esquisitices.
risonho,
sonhando florestas
de nossas sementes:
coisa risível.
só que só rio: sem escárnio.
porque te gosto. e forte.

9 agosto 2005

.
.
.Em português
até o silêncio.
.
.

4 maggio 2005

:

eu tenho sonhado atear fogo em meu estandarte.
por enquanto tem uma ponta sua amarrada em mim,
e a cada passo que eu dou ele se desfia. assim espero.

mas tem sido devagar porque durmo demais

:

8 aprile 2005

verão de seis dias por sete, de dia a cabeça se dói.
sem óculos o olho s'empoeira. ó de s dá tonteira o que dificulta atravessar rua
"os objetos podem estar mais perto do que aparecem"
mesmo os olhos sendo escuros se assustam com tamanho brilho de dias,
estão atrás de vidros enquanto querem olhar nos outros.
e mais: querem tão perto feito beijo linguado só que de olhos.
para o que cílios, sua permanência pequena, silly lady?

(o oculista falou que precisa de colírio pra justo quem tem tanto dom de lá grimar!)

29 marzo 2005

,
amor é o que se atiça se puxa esfrega e gasta.
com a dor se faz o mesmo, e ainda assim não dá rasgo
(nem num nem noutro).

aprende que a tessitura é forte.

houve dolore d’amore? ouve:
que te importa?

deixa um para cuidar do outro,
esquece tua cabeça palavra besta,
que te serpenteia os signos.

for preciso pensar,
pensa apenas nas línguas latinas,
quando as palavras rimam,
quando a dor tem olor de amor maior.

(diz não ao teu ego, nêga).

dorme feito quem sabe o segredo do dicionário,
de seus embaralhados verbetes sendo a vida;
sonha feito quem não sabe o alfabeto,
com tamanho de saber de muito mais;
acorda feita de novo,
abre olhos ávidos, de gema fugida: s,ê pássaro,

s,ê cavalo novo.
,

16 dicembre 2004

.


Canção de quase dama

Eu quero te escrever longa e concisamente. Talvez umas letras para a melodia que me deste em segredo. Eu só posso te escrever calma e furiosamente, procurando a flor que brota na tempestade que essas coisas me dão. Pode ser que ela se esconda, e só vejas raios e tormenta. Mas o mais provável é que eu te ponha diante de um jardim. Que na verdade só existe no dia seguinte, que logo vira dia anterior pois nunca é meu hoje. Queres me encontrar em um não-dia, para que conheças um sopro de mim? É quase um véu. Mas não tem problema, eu acho, que penses em mim uma noiva. O que farei do meu estado de dama? Devo falar baixo, sorrir de metade, não ter os pés calejados? Há algum jeito de aprender e, vejo em mim, certa vontade. Dessa escrita que te devo, para a suspeita canção.