23 dicembre 2008

I


Os meus olhos na maçã do teu rosto e o maxilar no ombro, 
assim se encaixa um rosto.
Uma da mão num ombro, pedaços do braço o cotovelo a coxa na mesma coxa e, faço um pouco de lembrar, não tem escrever o resto, tem o começo em Lisboa.

Esse rosto no meu corpo, a sua lingua é francesa, hesito entre tua e sua. você é um homem.





II

Me fez buscar na sua casa para cà.



III

Paris.


14 dicembre 2008

Começo



Por exemplo começar por Lisboa.

17 luglio 2008

,

ici


soube por anastassya que bielo-russia quer dizer a russia branca,
adoro o barulho de quando muitos lendo junto viram a pagina ao mesmo tempo,
hoje mareei os olhos numa aula sobre o tempo,
e pela primeira vez vi um garçom espirrar

14 giugno 2008

para te escrever um texto agora, me aproximo de alguma matéria
que às vezes parece madeira a ser entalhada, pra ficar só o que resiste,
noutras é uma massa que cede aos dedos
em especial aos gestos pequenos
como o das mãos que estiram a água do próprio corpo depois do banho
ou uma mão que ainda mais leve acompanha a maçã do rosto de uma pessoa


(as outras faíscas e farpas, estórias que podem ser da tessitura, ficam em suspensão: tive que encarar a matéria da madeira. envolvem rãs, polvilho muito branco, garoa, são paulo. e como eu comecei a contar do coelho...)

13 giugno 2008

é uma espera para escrever inteira, para guardar depois dos olhos o sabor de umas palavras que chegam à boca, se repetem e refazem num murmúrio de quem gosta
força-motriz, raiz, sentir santir sentr-se com todos os acentos
e conotações
transbordos e transoceânicos
« nas viagens de terra, subterrâneo mar e ar »

vontade muita, vontade simples e alive viva
de contar que nasci em doze do doze, e nascer é tão violento
violento visceral paixão
o que é tão bom e pulsante
quanto partir en vitesse para escrever e fotografar horrores, o que for terrivelmente bonito,
desde o dia sete do sete deste ano
até um continente onde o conteúdo transborde

sem a superfície estriada que a gente percorre como roteiro,
sem roteiro,
no mergulho

6 giugno 2008

« Era como se eu procurasse a natureza de um verbo que não tivesse infinito e que só poderia ser reconhecido através de um tempo e de um modo »

Monsieur Roland Barthes, na Câmara Clara

19 maggio 2008

te escrevi hoje no fim da manhã, deitada num banco que amo, perto do chão, onde quando a gente deita se sente cedendo à terra de todo o cheiro do sol entre as frestas, molhado, dos bichos pequenos que seguem correndo pelos tecidos mesmo depois no contínuo do dia, na volta pra sala, ali onde ficam os papéis, os móveis e as pessoas

quando eu te escrevi não tinha papel, nem lápis, teclado,
e, estando sozinha, tinha só eu

agora que eu te conto, tudo se imagina de novo, você pode imaginar
que tinha você perto

--

no resto do dia eu fui entender
essa fenda que se abre e como é infinita pra dentro

ou então, melhor dizer, eu só comecei
muito lenta, a entender
como um encontro abre essa fenda, pra gente falar sem língua, coisa nenhuma, do oco para o oco

porque ao mesmo tempo é tanta explosão, pólvora, tão bom violento mas tão violento,
que a gente já começa a seguir pelos dias, como só pode, no viver de sobrevida,
com as palavras, camadas, o português, a madeira feita em móvel

--

ainda fica, de todo jeito,
constelação de ossos quebrados
mesmo com um pouco de amortecimento pra tocar,
a sensação de estar vivendo com muita força,

e um beijo muito,
até que o tempo for propício,

17 marzo 2008

´

secar a pele, nutrir a pele, fazer do quente a toalha

e assim por diante estar muito perto,
aos poucos poderei dizer estar dentro,
dentro mesmo de onde moro,
tem noites em que vem só o susto.

parece que no outro domingo essa ainda não era a casa, então era mesmo o protótipo de casa e eu ficava e fotografava, me estendia no ensaio de habitar a grande novidade.

eu fiquei a semana toda louvando aquele domingo.

mas hoje, hoje era domingo então eu não soube mais sair daqui, não fiz bater as pernas pra ver o filhote do kazuo ohno, ainda que ame a paulista, sobretudo naquela altura, porque para chegar naquela altura sempre significa já ter andado um tanto,
--

_

é, deve ser, deve ser que não tem outra: é preciso reverter cada domingo de um jeito novo, num gesto bem grande e diverso

16 marzo 2008

secar a pele, nutrir a pele, fazer do quente a toalha


e assim por diante estar muito perto,

aos poucos poderei dizer estar dentro,

dentro mesmo de onde moro,

tem noites em que vem só o susto.


parece que no outro domingo essa ainda não era a casa, então era mesmo o protótipo de casa e eu ficava e fotografava, me estendia no ensaio de habitar a grande novidade.


eu fiquei a semana toda louvando aquele domingo.


mas hoje, hoje era domingo então eu não soube mais sair daqui, não fiz bater as pernas pra ver o filhote do kazuo ohno, ainda que ame a paulista, sobretudo naquela altura, porque para chegar naquela altura sempre significa já ter andado um tanto,



--


acho que não há mesma semana, acho que não tem mais solução: os domingos precisam ser revertidos a cada vez de um jeito diverso

10 marzo 2008

_

Ne laisse pas le soin de gouverner ton coeur à ces tendresses parentes de l'automne auquel elles empruntent sa placide allure et son affable agonie. L'oeil est précoce à se plisser. La souffrance connaît peu de mots. Préfère te coucher sans fardeau: tu rêveras du lendemain et ton lit te sera léger. Tu rêveras que ta maison n'a plus de vitres. Tu es impatient de t'unir au vent, au vent qui parcourt une année en une nuit. D'autres chanteront l'incorporation mélodieuse, les chairs qui ne personnifient plus que la sorcelleire du sablier. Tu condamneras la gratitude qui se répète. Plus tard, on t'identifiera à quelque géant désagrégé, seigneur de l'impossible.
Pourtant.
Tu n'as fait qu'augmenter le poids de ta nuit. Tu es retourné à la pêche aux murailles, à la canicule sans été. Tu es furieux contre ton amour au centre d'une entente qui s'affole. Songe à la maison parfaite que tu ne verras jamais monter. À quand la récolte de l'abîme? Mais tu as crevé les yeux du lion. Tu crois voir passer la beauté au-dessus des lavandes noires...
Qu'est-ce qui t'a hissé, une fois encore, un peu plus haut, sans te convaincre?
Il n'y a pas de siège pur.

_René Char, J'habite une douleur. 1962.



Não deixe o mando de teu coração a cargo dessas ternuras parentes do outono de quem emprestam marcha mansa e sua afável agonia. O olho é precoce ao dobrar-se. O sofrimento conhece poucas palavras. Prefere deitar-se sem peso: sonhará no amanhá e teu leito será leve. Sonhará com tua casa sem vidros. Você fica impaciente pra se unir ao vento, ao vento que percorre um ano numa noite. Outros vão cantar a incorporação melodiosa, as carnes que não personificam mais do que os feitiços da ampulheta. Condenará a gratidão que se repete. Mais tarde, será confundido com algum gigante em desalinho, senhor do impossível.
No entanto.
Só fez aumentar o peso de sua noite. Está de volta à pesca das muralhas, à canícula sem verão. Está furioso com seu amor no centro de um acordo que enlouquece. Sonha com a casa perfeita que jamais verá crescer. Até quando a colheita do abismo? Mas vazou os olhos do leão. Crê ver passar a beleza acima das lavandas negras...
Quem te alçou, mais uma vez, um pouco mais alto, sem te convencer?
Não há base pura.

26 gennaio 2008

existem, ouvi dizer, existe por exemplo alguém que vê o número pi numa extensão - mais de cinco horas para dizer na voz - uma paisagem. regiões muito bonitas mesmo.

sempre por terra, essa estrada leva à Bahia...passa por rios,

instante-região.
os dias são todos transitórios, caminham rumo ao vapor. igual eu ouvi sendo raio Claudeci dizer que somos faíscas.

porque num estalo alguma vez - porque ainda, porque no murmúrio do chá - não tinha nada diverso entre sonho e passado.
a gente muda o tom da voz para dizer que uma parte é delírio,

mas num mesmo balaio
tive um sonho em que as pessoas do ônibus falavam inglês, uma menina ficava dizendo pra outra que 'é tudo a mesma substância', o único livro que trouxe tem uma grande página de rosa em italiano.
acordei e riam muito do sotaque australiano dele, elas capotaram, davide também tinha dormido absurdos em turim.

_ _

feito um mantra no lugar do outro mantra de que já nem me lembro mais.
uma parte da sede vai com o tanto que se bebe, mas há o que se abastece só nos olhos,
o sol nasce do mar.

_

não apressa as fagulhas que vê a prestes a soltar

já tem o apreço, o natural fôgo nos olhos, essa lembrança de que o fogo sempre enfim